Post publicado em Outubro de 2007 no site Cena de Cinema.
A versão da Polícia! - Para quem gosta de filmes policiais e ficou longe dos meios de comunicação nos últimos tempos, estréia o grande filme do ano: Tropa de Elite, de José Padilha. Tirando todo o marketing ''involuntário'' e a polêmica ao redor da história, o filme tem um grande mérito que é pouco explorado nas fracas produções nacionais do gênero: o equilíbrio entre as partes envolvidas numa história tão complicada quanto o tráfico.
De um lado,vemos os policiais, com salários vergonhosos pela função que desempenham, que os leva à corrupção. De outro, os integrantes da classe média e alta que consomem, comercializam e alimentam o tráfico. Por fim, os habitantes da zona da periferia e a população pobre que produz e distribui as drogas.
Dentro dessas realidades que se chocam e se misturam, temos o enredo individual das personagens e seus objetivos, que, como mencionei, está distribuído na tela de forma magistral por Padilha, ao mostrar a ponte entre as ações da polícia e as repercussões que acabam tendo dentro e fora do esquadrão.
O Capitão Nascimento (Wagner Moura,fantástico!!), que quer constituir família e abandonar o mundo de violência em que vive, demosntrando caráter humano apesar de destemido e enérgico em suas ações; os ''aspiras'' Neto (Caio Junqueira) e Matias(André Ramiro), amigos de infância que enxergam e agem de forma diferente, mas sem a verdadeira noção de como funciona a realidade da polícia. Para Neto, o importante é acabar com os bandidos; já Matias quer exercer a lei - tanto que frequenta a faculdade de direito -, e Nascimento só quer cumprir seu dever e achar seu substituto.
É a produção que melhor representa a violência do Rio de Janeiro, diferente (senão melhor) de outro grande filme a que será inevitavelmente comparado: Cidade de Deus. Principalmente devido às sequências de tortura e corrupção que salienta, mas de maneira realmente necessária. Aqui, nada é gravado de graça, todos os takes são válidos para que nada se perca na narração do Capitão, que cercado pela corrupção, consegue se manter íntegro em prol da manutenção da ''paz'' entre seu esquadrão especial e os traficantes do morro.
Se o filme de Fernando Meirelles conta a história do povo da favela, ''Tropa'' tenta mostrar o outro lado, mas não na forma de propaganda, e sim ao caráter da polícia e seus integrantes. É relatado desde o soldado insatisfeito que ou é engolido pelo sistema e não sai do lugar, até aquele que manipula o sistema em benefício próprio pra tentar chegar a um lugar melhor. A violência não fica por conta apenas do ataque da polícia nas batidas da favela, mas também as próprias técnicas de treinamento para fazer parte do Bope - esquadrão especializado a que nossos protagonistas pertencem. Essa pode ser por muitos considerada a sequência mais engraçada do filme, que acaba por filtrar os futuros integrantes do grupo. A trilha, a fotografia e a veracidade das batidas reproduzem o que estamos acostumados a ver nos noticiários da televisão, assim como o caminho que a droga toma para chegar às ruas, que atualmente já fazem parte do dia-a-dia - de forma mais explícita do que gostamos de admitir. Se a juventude abastada não consumisse drogas, não existiria o tráfico; se a polícia recebesse um salário condizente com o risco que sua profissão exige, não seriam corruptos. E assim por diante. Este é o raciocínio lógico do filme. De certa forma,aqueles que foram vítimas de assaltos ou perderam filhos ou amigos para o tráfico, com certeza se sentirão ''vingados'', ao ver na tela expressa a sua raiva e ''justiça'' sendo expressa. Mas ao mesmo tempo, para aqueles que defendem os direitos humanos, o filme pode ser que tenha suas imagens classificadas como ''exageradas'' ou ''desumanas''. O importante é lembrar que é apenas um filme, porém, baseado em uma realidade bem comun ao nosso país, e não inventada pelos distantes roteiristas de Hollywood. Faca na Caveira!!!!
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